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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O BALANÇO




Vejo bem esse sistema.
Que a gente aliás conhece há muito, de fora,
mas cujo mecanismo ainda é ignorado.
Alguns — poucos — estão sentados no alto
e um grande número em baixo.
E os de cima gritam: Subam,
pra que fique todo o mundo no alto!
Mas olhando de mais perto, a gente percebe
alguma coisa de obscuro que parece um caminho.
Na verdade é uma prancha,
e se vê nitidamente
que se trata de uma gangorra.
Todo o sistema é um jogo de balanço,
cujas extremidades dependem uma da outra.
E estes só estão em cima
porque os outros etão todos embaixo
e enquanto eles permanecerem aí.
Porque se eles saíssem do seu lugar
e começassem a subir
os primeiros também teriam que sair do seu lugar.
De forma que é fatal que eles desejem
que os outros, por toda a eternidade
fiquem embaixo sem poder subir.
E é necessário também que os de baixo sejam mais
numerosos ou a prancha vacilaria, já que é uma
gangorra.



Bertold Brecht 

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