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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
''Bétula''
As gavinhas do sonho de um poeta
não são mais finas ao ramificar-se,
nem se inclinam com mais leveza ao vento,
nem são mais nobres no galgar o azul.
Terna e tenra, e superentrelaçada,
deixas que pendam quase em desalento
tuas ramagens claras e alongadas
a cada sopro ocasional do vento.
Assim pendente, flexível e mansa
com os teus delicados arrepios,
és para mim o amor da juventude
terno e puro - em feliz alegoria.
Hermann Hesse
In 'Andares'
Tradução de Geir Campos
''NOITE''
Acabo de apagar a minha vela:
pela janela aberta a noite vem,
me abraça com doçura, e me permite
ser amigo e irmão dela.
Sofremos ambos da mesma saudade:
cheio de augúrios nosso sonho vai,
e cochichamos sobre velhos tempos
em casa de nosso pai.
Hermann Hesse
pela janela aberta a noite vem,
me abraça com doçura, e me permite
ser amigo e irmão dela.
Sofremos ambos da mesma saudade:
cheio de augúrios nosso sonho vai,
e cochichamos sobre velhos tempos
em casa de nosso pai.
Hermann Hesse
''ANDARES''
Como emurchece toda flor, e toda idade
juvenil cede à senil - cada andar da vida
floresce, qual a sabedoria e a virtude,
a seu tempo, e não há de durar para sempre.
A cada chamado da vida o coração
deve estar pronto para a despedida e para
novo começo, com ânimo e sem lamúrias,
aberto sempre para novos compromissos.
Dentro de cada começar mora um encanto
que nos dá forças e nos ajuda a viver.
Devemos ir contentes, de um lugar a outro,
sem apegar-nos a nenhum como a uma pátria:
não nos quer atados, o espírito do mundo
- quer que cresçamos , subindo andar por andar.
Mal a um tipo de vida nos acomodamos
e habituamos, cerca-nos o abatimento.
Só quem se dispõe a partir e a ir em frente
pode escapar à rotina paralisante.
É bem possível que a hora da morte ainda
de novos planos ponha-nos na direção:
para nós, não tem fim o chamado da vida...
Saúda, pois, e despede-te , coração!
Hermann Hesse
''ROSA BRANCA AO CREPÚSCULO''
Inclinas triste o rosto
nas folhas, para a morte,
respiras luz fantástica
e emites sonhos pálidos.
Íntima como um canto,
à última luz flutua
no quarto, a tarde toda,
a doce fragrância tua.
No inefável se engaja
tua alma temerosa,
e vai rindo e morrendo
em meu peito, irmã rosa.
Hermann Hesse
nas folhas, para a morte,
respiras luz fantástica
e emites sonhos pálidos.
Íntima como um canto,
à última luz flutua
no quarto, a tarde toda,
a doce fragrância tua.
No inefável se engaja
tua alma temerosa,
e vai rindo e morrendo
em meu peito, irmã rosa.
Hermann Hesse
''UMA VEZ, HÁ MIL ANOS''
Inquieto e com vontade de viajar,
ao acordar de um sonho esfacelado,
ouço dentro da noite a melodia
que os meus bambus estão a sussurrar.
Em vez de me aquietar, de me deitar,
eu me sinto arrancar dos velhos trilhos
a me precipiar, a ir pelo ar
em vôo picado rumo ao infinito.
Uma vez, há mil anos, existiu
uma terra natal e um jardim onde
no canteiro onde se enterravam pássaros
a neve enrijecia os açafrões.
Quisera eu me estender em vôo de pássaro,
além do deserto que me enclausura,
até lá - até aqueles tempos cujo
ouro até hoje para mim fulgura.
Hermann Hesse
ao acordar de um sonho esfacelado,
ouço dentro da noite a melodia
que os meus bambus estão a sussurrar.
Em vez de me aquietar, de me deitar,
eu me sinto arrancar dos velhos trilhos
a me precipiar, a ir pelo ar
em vôo picado rumo ao infinito.
Uma vez, há mil anos, existiu
uma terra natal e um jardim onde
no canteiro onde se enterravam pássaros
a neve enrijecia os açafrões.
Quisera eu me estender em vôo de pássaro,
além do deserto que me enclausura,
até lá - até aqueles tempos cujo
ouro até hoje para mim fulgura.
Hermann Hesse
''RAMO EM FLOR''
Para cá e para lá
sempre se inclina ao vento o ramo em flor,
para cima e para baixo
sempre meu coração vai feito uma criança
entre ambições e renúncias.
Até que as flores se espalham
e o ramo se enche de frutos,
até que o coração farto de infância
alcança a paz
e confessa: de muito agrado e não perdida
foi a inquieta jogada da vida.
Hermann Hesse
sempre se inclina ao vento o ramo em flor,
para cima e para baixo
sempre meu coração vai feito uma criança
entre ambições e renúncias.
Até que as flores se espalham
e o ramo se enche de frutos,
até que o coração farto de infância
alcança a paz
e confessa: de muito agrado e não perdida
foi a inquieta jogada da vida.
Hermann Hesse
'NENHUM SOSSEGO'
Alma, pássaro assustado,
tu sempre perguntarás:
quando, após tantos maus dias,
vem a calma, vem a paz?
Mas sei: tão logo tenhamos
calmos dias sob a terra,
com saudade hás de fazer
de cada dia uma praga.
E, apenas salva, estarás
cansando-te em outras penas:
e impaciente arderás como
a mais jovem das estrelas.
Hermann Hesse
''JOVEM NOVIÇO NUM MOSTEIRO ZEN - II''
Seja tudo ilusão e fantasia,
permanecendo a verdade indizível:
entretanto, a montanha me contempla
com seu contorno bem reconhecível.
Cervo e corvo, rosa rubra e lilás,
azul de mar e mundo variegado:
se te concentras, tudo se desfaz
no grande Uno amorfo e inominado.
Recolhe-te ao mais fundo do teu ser
e assim aprende a ver, aprende a ler!
Concentra-te ... e o mundo faz-se aparência.
Concentra-te ... e a aparência faz-se essência.
Hermann Hesse
permanecendo a verdade indizível:
entretanto, a montanha me contempla
com seu contorno bem reconhecível.
Cervo e corvo, rosa rubra e lilás,
azul de mar e mundo variegado:
se te concentras, tudo se desfaz
no grande Uno amorfo e inominado.
Recolhe-te ao mais fundo do teu ser
e assim aprende a ver, aprende a ler!
Concentra-te ... e o mundo faz-se aparência.
Concentra-te ... e a aparência faz-se essência.
Hermann Hesse
''JOVEM NOVIÇO NUM MOSTEIRO ZEN - I''
A mansão de meu pai levanta-se no sul
entre o calor do sol e o ar do mar azul:
de noite estou sonhando,às vezes, com meu lar,
e as lágrimas me molham para me acordar.
Será que os meus colegas percebem também
o que há comigo? Assustam-me com seu desdém.
Idosos monges roncam como uns animais;
só eu. Yu Wang, esfrio-me e não durmo mais.
Um dia, um dia eu ainda pego oo meu bastão,
calço as sandálias, e não fico aqui mais não:
por u milhar de milhas peregrinarei
de volta ao lar e à sorte que eu mesmo deixei.
Mas quando o mestre fita o olhar de tigre em mim
a penetrar-me, o meu destino eu vejo enfim:
sinto-me todo ardendo e todo me gelando,
envergonho-me, tremo, fico e vou ficando.
Hermann Hesse
entre o calor do sol e o ar do mar azul:
de noite estou sonhando,às vezes, com meu lar,
e as lágrimas me molham para me acordar.
Será que os meus colegas percebem também
o que há comigo? Assustam-me com seu desdém.
Idosos monges roncam como uns animais;
só eu. Yu Wang, esfrio-me e não durmo mais.
Um dia, um dia eu ainda pego oo meu bastão,
calço as sandálias, e não fico aqui mais não:
por u milhar de milhas peregrinarei
de volta ao lar e à sorte que eu mesmo deixei.
Mas quando o mestre fita o olhar de tigre em mim
a penetrar-me, o meu destino eu vejo enfim:
sinto-me todo ardendo e todo me gelando,
envergonho-me, tremo, fico e vou ficando.
Hermann Hesse
''Desalento''
Sonâmbulo tateio entre florestas e precipício,
Ao meu redor um círculo de magia brilha,
Sem considerar se solicitado ou injuriado,
Sigo fiel a ordem, minha trilha.
Quantas vezes a realidade me despertou,
Em que viveis e a ela me ordenou!
Desiludido e assustado nela ficava
Porém dela logo me esgueirava.
Oh! Cálida pátria que me tomais,
Oh! Sonho de amor cruelmente desperto
Como a água que volta ao mar
Para ti reflui meu ser, por caminho incerto.
Às ocultas, fontes me guiam como um canto,
Aves do paraíso agitam suas brilhantes penas;
Novamente ressoa da minha infância o acalanto,
No dourado emaranhar e zumbir das abelhas
Junto da mãe me reencontro em pranto.
Hermann Hesse
In Caminhada
''NOITE DE VERÃO PRECOCE''
Céu de trovão;
lá no jardim
treme uma tília.
A tarde chega ao fim.
Claro relâmpago
deixa-se ver
com grandes olhos
no tanque úmidos.
Nas hastes frágeis
as flores ouvem
aproximar-se
o anjo da foice.
Céu de trovão,
ar abafado:
- "Fala , não sentes também?"
A rapariga estremece a meu lado.
Hermann Hesse
''OUTONO PRECOCE''
Odor picante já de folhas murchas,
trigais a abrir-se vagos e sem vista:
sabe-se que das tempestades próximas
uma desnucara nosso exausto verão.
As vagens da giesta rangem. De repente
avultam ante nós o distante e o lendário:
o que hoje imaginamos ter na mão
perde-se, e cada flor, misteriosamente.
Na alma assustada cresce um tímido desejo:
de não prender-se à vida em demasia,
de aceitar como as árvores o emurchecer,
de não deixar que o seu outono faltem cores e alegria.
Hermann Hesse
trigais a abrir-se vagos e sem vista:
sabe-se que das tempestades próximas
uma desnucara nosso exausto verão.
As vagens da giesta rangem. De repente
avultam ante nós o distante e o lendário:
o que hoje imaginamos ter na mão
perde-se, e cada flor, misteriosamente.
Na alma assustada cresce um tímido desejo:
de não prender-se à vida em demasia,
de aceitar como as árvores o emurchecer,
de não deixar que o seu outono faltem cores e alegria.
Hermann Hesse
'Quanto mais envelhecia...'
Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas
me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava,
tanto mais claramente compreendia onde eu deveria
procurar a fonte das alegrias da vida.
Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada.
Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver
e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar.
(Hermann Hesse)
me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava,
tanto mais claramente compreendia onde eu deveria
procurar a fonte das alegrias da vida.
Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada.
Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver
e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar.
(Hermann Hesse)
''PERDIMENTO''
Sonâmbulo tateio entre bosque e barranco,
há um halo de magia aceso ao meu redor;
sem reparar se sou bem aceito ou maldito,
sigo à risca o meu próprio mandato interior.
Quantas vezes veio chamar-me a realidade
em que vós existis, para me comandar!
Dentro dela eu ficava assustado e sem forças,
e logo descobria um jeito de escapar.
Ao meu país ardente, do qual me privais,
ao meu sonho de amor, do qual me sacudis,
como as águas retornam sempre para o mar
também meu ser retorna usando mil ardis.
Amigas fontes guiam-me com seu cantar,
aves de sonho as plumas de luz a ruflar:
de novo faz-se ouvir o som da minha infância
- em áurea rede, ao doce zumbir das abelhas,
junto de minha mãe volto enfim a me achar.
Hermann Hesse
''FIM DE INVERNO''
Na verde encosta coberta de asas
já repica um azul de violetas.
Somente ao longo da floresta escura
demora a neve em línguas dentilhadas,
mas gota a gota vai-se desfazendo
atraída pela terra.
No pálido céu alto pastam alvos
rebanhos de nuvens. Um pintassilgo
em amoroso canto se desfaz:
-Homens, amai-vos e cantai em paz!
Hermann Hesse
já repica um azul de violetas.
Somente ao longo da floresta escura
demora a neve em línguas dentilhadas,
mas gota a gota vai-se desfazendo
atraída pela terra.
No pálido céu alto pastam alvos
rebanhos de nuvens. Um pintassilgo
em amoroso canto se desfaz:
-Homens, amai-vos e cantai em paz!
Hermann Hesse
''PELOS CAMPOS''
Pelos céus passam as nuvens,
sobre os campos sopra o vento,
pelos campos erra o filho
perdido de minha mãe.
Pelas ruas rolam folhas,
sobre as árvores há pássaros.
Sobre as montanhas, em algum lugar
minha pátria há de estar.
Hermann Hesse
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
MONTANHAS DENTRO DA NOITE
O lago está apagado,
escuro dorme o canavial
a resmungar em sonho.
Espalham-se terríveis sobre a terra
as longas ameaças das montanhas:
elas não têm descanso,
respiram fundo e ficam
umas de encontro às outras apertadas,
num surdo respirar,
carregadas de forças abafadas
sem remissão numa paixão insaciada.
Hermann Hesse
À MELANCOLIA
No vinho ou entre amigos, de ti eu fugia,
pois do teu olho escuro eu sentia pavor:
ingrato filho teu, assim eu te esquecia
ao toque do alaúde e nos braços do amor.
Com toda a discrição, no entanto, me seguias:
sempre estavas no vinho que eu tonto bebia
e no mormaço das minhas noites de amor
e no desdém com que eu a ti me referia.
Agora me refrescas os membros cansados
e tens minha cabeça em teu colo macio,
para o regresso das minhas longas viagens
- pois a ti me traziam todos os meus desvios.
Hermann Hesse
[Tela de Edvard Munch]
''DIAS DO DESTINO''
Quando são de espantar os dias turvos
e o mundo hostil e frio se apresenta,
amedronta-se a confiança tua
a depender de ti completamente.
Mas fechado em ti mesmo, desterrado
do país da relembrada alegria,
vais entrevendo paraísos novos
em que a crença tua se repatria.
Já reconheces como afim de ti
o que antes parecia adverso e estranho,
e passas a chamar com novo nome
o destino que tu vais aceitando.
O que fora ameaça de esmagar-te,
mostra-se afável, a respirar luz:
é qual um mensageiro, qual um guia
que bem alto e mais alto te conduz.
Hermann Hesse
"Entre as Palavras"
Entre as palavras,
existem para cada falante as prediletas e as estranhas,
preferidas e evitadas, cotidianas -
que se usam mil vezes sem temer o desgaste -
e outras - solenes - que, por mais que as amemos,
só pronunciamos ou
escrevemos com cuidado e reflexão,
como objetos raros:
fazendo as escolhas que correspondem
a essa sua solenidade.
Entre elas está para mim a palavra : FELICIDADE.
Hermann Hesse
[Tela de Denis Nolet]
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