Seja bem-vindo. Hoje é
Mostrando postagens com marcador W. H. Auden. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador W. H. Auden. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

'LAUDES'

Na folhagem os passarinhos cantam;
O canto do galo comanda a madrugada:
Em solidão, por companhia.

O sol brilhante ilumina as criaturas mortais;
O homem descobre o seu vizinho:
Em solidão, por companhia.

O Canto do galo comanda a madrugada;
Já repica o sino da igreja:
Em solidão, por companhia.

O homem descobre o seu vizinho;
Deus abençoe o Lugar e o Povo:
Em solidão, por companhia.

Já repica o sino da igreja;
A roda da azenha continua a girar:
Em solidão, por companhia.

Deus abençoe o Lugar e o Povo;
Deus abençoe este verde mundo efémero:
Em solidão, por companhia.

A roda da azenha continua a girar;
Na folhagem os passarinhos cantam:
Em solidão, por companhia.


W. H. AUDEN

(1907-1973)

(in "O Massacre dos Inocentes",
Tradução de José Alberto Oliveira)

Apoia a tua cabeça adormecida, amor



Apoia a tua cabeça adormecida, amor,
Tão humana sobre o meu braço descrente;
O tempo e a febre consomem
A própria beleza das
Pensativas crianças, e o túmulo
Mostra que a criança é efémera:
Mas, nos meus braços, até ao romper do dia
Deixa que a viva criatura jaza
Mortal, culpada, mas que para mim
É toda a beleza.

A alma e o corpo não têm limites:
Para os amantes quando jazem
Sobre o seu permissivo e encantado declive
Num habitual desfalecimento,
Grave é a visão que Vénus envia
De uma sobrenatural compaixão;
Amor universal e esperança;
Entretanto, uma visão abstracta desperta
Entre os glaciares e as rochas
O êxtase carnal do eremita.

A segurança e a fidelidade
Passam ao bater da meia-noite
Como as vibrações de um sino
E aqueles que são e.legantes e loucos erguem
O seu pedante e enfadonho apelo:
A mais pequena moeda devida,
Tudo o que as temidas cartas auguram,
Há-de ser pago, mas desta noite
Nem um murmúrio, nem um pensamento,
Nem um beijo nem um olhar se hão-de perder.
A beleza, a meia-noite, a visão que morre;
Que os ventos da madrugada ao soprarem
Suaves em redor da tua cabeça sonhadora
Mostrem um dia de boas-vindas
Que o olhar e o coração palpitante abençoem,
Que achem suficiente o nosso mundo mortal;
Que meios-dias de aridez te encontrem alimentada
Por poderes involuntários,
Que noites de afronta te deixem passar
Vigiada por todos os amores humanos.



Janeiro 1937



W.H. Auden
DIZ-ME A VERDADE ACERCA DO AMOR
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães
Relógio d´Água
1994

''Canção''



Dizem que esta cidade tem dez milhões de almas
Umas vivem em palácios, outras em mansardas;
contudo não há lugar para nós, minha querida, não há

lugar para nós.

Uma vez tivemos uma pátria e julgávamos que era bela.
Olha para o mapa e lá a encontrarás;
mas não poderemos regressar tão cedo, minha querida, não

podere-
mos regressar tão cedo.

O cônsul deu um murro na mesa e disse:
se não têm passaportes estão oficialmente mortos;
mas nós ainda estamos vivos, minha querida, ainda

estamos vivos.

Lá em baixo no adro um velho teixo
todas as primaveras floresce de novo:
e os velhos passaportes não florescem, minha querida, os

velhos
passaportes não florescem.

Fui a um comissariado e ofereceram-me uma cadeira.
disseram polidamente para voltar no ano seguinte:
mas onde iremos agora, minha querida, onde iremos agora?

Fui a um comício público; o orador levantou-se e disse:
se os deixarmos cá dentro, roubar-nos-ão o pão de cada

dia;
estava a falar de mim e de ti, minha querida, a falar de

mim e de ti.

Ouves um ruído como um trovão roncando no céu?
É Hitler sobre a Europa dizendo: «Eles têm de morrer!»
Nós estávamos no Seu pensamento, minha querida,

estávamos no
Seu pensamento.
Vi um cão de luxo de jaqueta apertada com um alfinete
vi uma porta aberta e um gato entrando;
mas não eram judeus alemães, minha querida, não ale-
mães.

Desci ao porto e parei no cais
vi os peixes a nadar. Como são livres!
a dez pés de distância, minha querida, só a dez pés

distância

Passeei pelo bosque; há pássaros nas árvores,
não têm políticos e cantam livremente.
Não são da raça humana, minha querida, não são da raça humana

Sonhei que vira um edifício com mil andares
mil janelas e mil portas;
nenhuma delas era nossa, minha querida, nenhuma

Corri à estação para apanhar o expresso,
pedi dois bilhetes para a Felicidade;
mas todas as carruagens estavam cheias, minha querida, todas as
carruagens estavam cheias.

Fui parar a uma grande planície, no meio da neve a cair
dez mil soldados marchavam de um lado para o outro
olhando para mim e para ti, minha querida, olhando para mim e
para ti.



W. H. Auden
(1907-1973)
TRAD.:Jorge Emílio
''Rosa Do Mundo'' 2001 POEMAS PARA O FUTURO
Assírio & Alvim

''O ANDARILHO''

 
É negro o destino e mais fundo que qualquer depressão marinha.
Sobre qualquer homem que caia
Na primavera, flores desejosas do dia aparecendo,
Avalanche desabando, branca neve sobre a face das rochas,
De abandonar sua casa
Nenhuma mão de suave nuvem pode impedi-lo, retido por mulheres;
Mas esse homem sempre vai,
Entre guardadores de lugares, entre árvores da mata,
Estranho para estranhos sobre úmidos mares,
Casas para peixes, água sufocante,
Ou solitário no abatimento como no bate-papo,
Junto aos riachos encrespados,
Um pássaro obcecado, um pássaro inquieto.
 
Lá a cabeça pende para diante, cansada ao anoitecer,
E sonhos com o lar,
Acenando da janela, espalham boas-vindas,
Beijos de esposa sob lençol de solteiro;
Mas despertando vê
Bandos de aves sem nome para ele, vozes através do vestíbulo
De novos homens fazendo outro amor.
 
Salvem-no da hostil captura,
Da salto súbito do tigre numa esquina;
Protejam sua casa,
Sua casa ansiosa onde os dias são contados
Do relâmpago protejam,
Da ruína gradual se espalhando feito mancha;
Convertendo números de vagos para certos,
Tragam alegria, tragam o dia do seu retorno,
Sortudo com o dia se aproximando, com a iminente aurora.

W. H. Auden

''BLUES DEL FUNERAL''


Paren todos los relojes, corten el teléfono
Eviten que el perro ladre dándole un hueso jugoso
Silencien los pianos y, con un sonido suave
Traigan el ataúd, dejen venir a los deudos

Permitan a los aviones dar círculos en lo alto
Escribiendo en el cielo el mensaje: él está muerto
Coloquen crespones alrededor de los cuellos blancos de

los servidores públicos
Permitan usar guantes negros de algodón a los policías.

Él era mi norte, mi sur, mi este y mi oeste
Mi semana de trabajo y mi domingo de descanso,
Mi mediodía, mi medianoche, mi conversación, mi canción;
Pensé que el amor duraría para siempre: me equivoqué.

Ahora no se necesitan las estrellas sáquelas todas;
Llévense la luna y desmantelen el sol;
Vacíen el océano y limpien el fondo;
Pues nada, ahora podrá ser como antes.

W. H. Auden

''DECIDME CÓMO ES EL AMOR''


Unos dicen que el amor es un niño
y otros dicen que es un pájaro,
unos dicen que es lo que mueve el mundo,
y otros dicen que eso es absurdo,
y cuando le pregunté al vecino de al lado,
que parecía como si lo supiese,
su mujer se enfadó mucho
y me dijo que no iba a sacar nada.

¿Se parece acaso a una pijama,
o al jamón de las clínicas de reposo?
¿Su olor recuerda a las llamas
o es un olor reconfortante?
¿Tiene espinas como un seto,
o es blando como pelusa de edredón?
¿Es afilado o tiene el borde suave?
Venga, decidme cómo es el amor.

Nuestros libros de historia se refieren a él
con notas minúsculas y crípticas ,
es un tema bastante habitual en
los barcos trasatlánticos;
he encontrado menciones al asunto
en relatos de suicidios,
e incluso lo he visto escrito
en contracubiertas de guías

ferroviarias.

¿Aúlla como un pastor alemán hambriento
o retruena como una banda de ejército?
¿Alguien puede hacerme una buena imitación
con una sierra o con un Steinway Grand?
¿Cuándo canta en las fiestas la arma?
¿Sólo se dedica a los clásicos?
¿Se calla cuando uno quiere silencio?
Venga, decidme cómo es el amor.

Miré en el cenador
allí tampoco estaba.
Probé en el Támesis, cerca de Maidenhead,
Y en el aire tonificante de Brighton.
No sé lo que canta el mirlo
ni lo que decía el tulipán,
pero no estaba en el gallinero
ni debajo de la cama.

¿Puede hacer muecas extrañas?
¿Se marea con los balanceos?
¿Se pasa el día en las carreras
o haciendo chanchullos con alambres?
¿Tiene su propias ideas sobre el dinero?
¿Es lo bastante patriótico?
¿Sus chistes son vulgares pero divertidos?
Venga, decidme cómo es el amor.

Cuando venga, ¿será sin avisar?
mientras me esté hurgando la nariz?
¿Llamará a mi puerta por la mañana
o me pisará un dedo en el autobús?
¿Será como cuando cambia el tiempo?
¿Saludará con cortesía o sin educación?
¿Cambiará mi vida a fin de cuentas?
Venga, decidme cómo es el amor.


W. H. Auden

''Sino una campo asfixiado de cizaña.''

Un andrajoso chiquilín, perdido y solo,
Vagaba sobre ese baldío, un pájaro
Voló escapando de su piedra certera.
Que haya jóvenes violadas, que dos chicos apuñalen a un

tercero,
Eran axiomas para él, que nunca había oído hablar
De un mundo donde las promesas son cumplidas,
O uno puede llorar porque el otro llora.

El forjador de armas de apretados labios,
Hefesto, se alejó cojeando,
Tetis la de los pechos brillantes
Clamó su desaliento
Por lo que el dios había forjado
Para agradar a su hijo, el fuerte
Matador de hombres, Aquiles, el de corazón de hierro
Quien no habría de vivir mucho más.


W. H. Auden

"Funeral Blues"

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public

doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

W.H. Auden

'That night when joy began'

That night when joy began
Our narrowest veins to flush,
We waited for the flash
Of morning's leveled gun.

But morning let us pass,
And day by day relief
Outgrows his nervous laugh,
Grown credulous of peace,

As mile by mile is seen
No trespasser's reproach
And love's best glasses reach
No fields but are his own.


W. H. Auden

''Blues Fúnebres''


Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

W. H. Auden
Tradução de Nelson Ascher
in "Poesia Alheia - 124 poemas traduzidos" (1998)

''O plunge your hands in water''

'O plunge your hands in water,
Plunge them in up to the wrist;
Stare, stare in the basin
And wonder what you've missed.

'The glacier knocks in the cupboard,
The desert sighs in the bed,
And the crack in the tea-cup opens
A lane to the land of the dead.

'Where the beggars raffle the banknotes
And the Giant is enchanting to Jack,
And the Lily-white Boy is a Roarer,
And Jill goes down on her back.

'O look, look in the mirror,
O look in your distress:
Life remains a blessing
Although you cannot bless.

'O stand, stand at the window
As the tears scald and start;
You shall love your crooked neighbour
With your crooked heart.'

It was late, late in the evening,
The lovers they were gone;
The clocks had ceased their chiming,
And the deep river ran on.


W. H. Auden

''NOTURNO''


 
Aparecendo sem aviso, a lua
Contra os picos evita se arranhar
E para o céu aos poucos escorrega,
assim como quem sabe o seu lugar.
 
De imediato, me diz meu coração:
“Adora-A, Virgem, Mãe, Musa, Cabeça
Digna de ver, mas Que há de construir-te
Ou destruir-te, conforme lhe apeteça.”
 
E então a minha mente, num reflexo:
“Não me dirás, presumo, que lhe doa
A esse montão estéril de crateras
Quem com quem dorme e quem a quem magoa.”
 
Nesta noite, tal como em muitas outras,
A mais óbvia franqueza vence a rixa,
A minha mente, dura, ousa admitir
Que ambos na força apostam sua ficha.
 
Dado aquilo em que ambos acreditam,
A Deusa tem, por certo, de partir,
E sua majestade é só a máscara
Que um dínamo sem rosto vem cobrir;
 
Mas nenhuma das minhas naturezas
Pode queixar-se se eu for rebaixado
A um reles funcionário cujo sonho
É vasto, sem escrúpulo, encrencado.
 
Supondo, entanto, que meu rosto é real
E não um mito ou máquina que visto,
Devia a lua assemelhar-se a x,
Com feições que eu de fato tenha visto,
 
Como as de meu vizinho, ou uma face –
Não um status, um sexo – como a sua,
Constante para mim, não me importando
Qual o valor que a x eu atribua;
 
Essa efusiva dama, porventura,
Que uns versos seus me veio aqui trazer;
Esse pobre que volta novamente
Em busca de um empréstimo qualquer;
 
Contraimagens, enfim, que balanceiam
Com o que nelas é falta de peso
Meu mundo, esse veículo privado
E os motores inúmeros do Estado.
 

W.H. Auden
Tradução; Renato Suttana 

''ADOLESCÊNCIA''

 
Da figura materna uma vez lembrado pelos arredores,
Os cumes que ele recorda ficam maiores e maiores:
Com as mais finas penas de desenhar mapas ele se põe ternamente a traçar
Todos os nomes de família, cada qual em seu local familiar.
 
Vagando por uma campina verde, ele passa por águas quietas;
Certamente parece um cisne para as filhas da terra indiscretas,
Curvando uma linda cabeça, cultuando o não-mentir,
“Caro” o bico dos caros na cara concha a rugir.
 
Sob as árvores as fanfarras do verão estavam a tocar;
“Caro menino, seja valente como estas raízes”, ouviu-as proclamar:
Leva as boas novas alegremente para um mundo em perigo,
Está pronto a discutir com qualquer estranho, ele sorri consigo.
 
E, no entanto, esse profeta, voltando para casa quando o dia finda,
Da terra que assim defendeu recebe estranhas boas-vindas:
A banda estruge: “Covarde, covarde”, no seu humano ardor,
A giganta cambaleia para mais perto, grita: “Enganador”.

 W. H. Auden
Tradução Renato Suttana

''ACALANTO''


 
Repousa a fronte, meu amor,
Humana em meu braço descrente;
Que o tempo e as febres crestem, varram
Toda a beleza individual
Das crianças ora pensativas,
Porquanto o túmulo revela
O quanto a criança é passageira:
Mas que em meus braços se demore,
Até que o dia se renove,
Quieta, a vivente criatura –
Mortal, culpada, mas para mim
Tão bela, inteiramente bela.
 
Não têm amarras alma e corpo:
Aos amantes, quando se deitam
No seu indulgente e encantado
Declive, absortos no langor
Costumeiro, grave é a visão
Que Vênus do alto lhes envia
De sobre-humana simpatia,
E de esperança e de um amor
Universal, enquanto, abstrata,
Uma interior visão desperta
Em meio aos gelos e aos rochedos
Do eremita a carnal euforia.
 
Como de um sino as vibrações
Quando ressoa a meia-noite,
Fidelidade e segurança
No vento passam, e, pedantes,
Os desvairados do momento
Lançam seu grito aborrecido:
Que do preço todo o montante,
Tal como, tristes, o preveem
Todas as cartas do baralho,
Seja pago; mas desta noite
Nenhum suspiro, pensamento,
Beijo ou olhar seja perdido.
 
Beleza, noite, visão morrem:
Que os ventos da manhã, soprando
Suaves em torno ao teu sonhar,
Mostrem, que ao olho e ao coração
Venha trazer a sua bênção,
Um dia de amplo acolhimento,
E nos baste o mundo mortal:
E te encontrem as tardes secas
Pelas forças involuntárias
Nutrido; e que as noites de insulto
Te deixem ir sob os cuidados
De cada humano sentimento.

  W. H. Auden, 
Tradução Renato Suttana

''MUSÉE DES BEAUX ARTS''

 

 
Eles nunca se enganavam sobre o sofrimento,
Os Velhos Mestres: como entendiam
Bem a sua posição humana; como tem lugar
Enquanto alguém está comendo ou abrindo uma janela ou só a passear
Por aí, como quando os mais velhos estão reverente, apaixonadamente
Esperando pelo miraculoso nascimento,
Sempre haverá crianças que não queriam, especialmente,
Que isso acontecesse, a patinar num lago na orla do mato:
Eles nunca esqueciam
Que até o terrível martírio tem de seguir o seu curso exato
De qualquer modo num canto, nalgum terreiro
Imundo onde os cachorros continuam levando sua vida canina e o cavalo
Do torturador raspa contra uma árvore o seu inocente traseiro.
 
No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo o mais se desvia
Tranquilamente do desastre; o camponês com o arado podia
Muito bem ter ouvido o barulho, o grito desamparado,
Mas para ele não era um fracasso importante; o sol brilhou
Como tinha de brilhar sobre as pernas brancas submergindo
Na água verde; e o navio caro e delicado
Que deve ter visto alguma coisa espantosa, um garoto caindo
Do céu, tinha algum lugar para ir e calmamente continuou.

W. H. Auden
Tradução Renato Suttana