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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

''NOTURNO''


 
Aparecendo sem aviso, a lua
Contra os picos evita se arranhar
E para o céu aos poucos escorrega,
assim como quem sabe o seu lugar.
 
De imediato, me diz meu coração:
“Adora-A, Virgem, Mãe, Musa, Cabeça
Digna de ver, mas Que há de construir-te
Ou destruir-te, conforme lhe apeteça.”
 
E então a minha mente, num reflexo:
“Não me dirás, presumo, que lhe doa
A esse montão estéril de crateras
Quem com quem dorme e quem a quem magoa.”
 
Nesta noite, tal como em muitas outras,
A mais óbvia franqueza vence a rixa,
A minha mente, dura, ousa admitir
Que ambos na força apostam sua ficha.
 
Dado aquilo em que ambos acreditam,
A Deusa tem, por certo, de partir,
E sua majestade é só a máscara
Que um dínamo sem rosto vem cobrir;
 
Mas nenhuma das minhas naturezas
Pode queixar-se se eu for rebaixado
A um reles funcionário cujo sonho
É vasto, sem escrúpulo, encrencado.
 
Supondo, entanto, que meu rosto é real
E não um mito ou máquina que visto,
Devia a lua assemelhar-se a x,
Com feições que eu de fato tenha visto,
 
Como as de meu vizinho, ou uma face –
Não um status, um sexo – como a sua,
Constante para mim, não me importando
Qual o valor que a x eu atribua;
 
Essa efusiva dama, porventura,
Que uns versos seus me veio aqui trazer;
Esse pobre que volta novamente
Em busca de um empréstimo qualquer;
 
Contraimagens, enfim, que balanceiam
Com o que nelas é falta de peso
Meu mundo, esse veículo privado
E os motores inúmeros do Estado.
 

W.H. Auden
Tradução; Renato Suttana 

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