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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

''ACALANTO''


 
Repousa a fronte, meu amor,
Humana em meu braço descrente;
Que o tempo e as febres crestem, varram
Toda a beleza individual
Das crianças ora pensativas,
Porquanto o túmulo revela
O quanto a criança é passageira:
Mas que em meus braços se demore,
Até que o dia se renove,
Quieta, a vivente criatura –
Mortal, culpada, mas para mim
Tão bela, inteiramente bela.
 
Não têm amarras alma e corpo:
Aos amantes, quando se deitam
No seu indulgente e encantado
Declive, absortos no langor
Costumeiro, grave é a visão
Que Vênus do alto lhes envia
De sobre-humana simpatia,
E de esperança e de um amor
Universal, enquanto, abstrata,
Uma interior visão desperta
Em meio aos gelos e aos rochedos
Do eremita a carnal euforia.
 
Como de um sino as vibrações
Quando ressoa a meia-noite,
Fidelidade e segurança
No vento passam, e, pedantes,
Os desvairados do momento
Lançam seu grito aborrecido:
Que do preço todo o montante,
Tal como, tristes, o preveem
Todas as cartas do baralho,
Seja pago; mas desta noite
Nenhum suspiro, pensamento,
Beijo ou olhar seja perdido.
 
Beleza, noite, visão morrem:
Que os ventos da manhã, soprando
Suaves em torno ao teu sonhar,
Mostrem, que ao olho e ao coração
Venha trazer a sua bênção,
Um dia de amplo acolhimento,
E nos baste o mundo mortal:
E te encontrem as tardes secas
Pelas forças involuntárias
Nutrido; e que as noites de insulto
Te deixem ir sob os cuidados
De cada humano sentimento.

  W. H. Auden, 
Tradução Renato Suttana

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