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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

''CORAÇÃO NEGRO''

Coração negro.
Enigma ou sangue de outras vidas passadas,
suprema interrogação que me fala diante dos olhos,
signo que não compreendo à luz da lua.
Sangue negro, coração dolorido que de longe envias
incertos latidos, quentes baforadas,
pesado vapor de estio, rio no qual não me afundo,
que passa como o silêncio sem luz, sem perfume nem amor.
Triste história de um corpo que existe como existe um planeta,
como existe a lua, a lua abandonada,
osso que todavia tem a claridade da carne.
Aqui, aqui na terra lançado entre uns juncos,
entre o verde presente, entre o sempre fresco,
vejo essa pena ou sombra, essa linfa ou espectro,
essa suspeita solidão de sangue que não passa.
Coração negro, origem da dor ou a lua,
coração que outrora pulsaste entre umas mãos!
Beijo que navegaste por uma veias rubras,
corpo que te cingiste a um taipal vibrante!


Vicente Aleixandre

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