Essa confusão babilônica das palavras
Vem de que são a língua
De decadentes.
O fato de não mais os entendermos
Vem de que não mais adianta
Entendê-los.
De que adianta
Contar aos mortos como teriam
Vivido melhor. Não procure mover
Um morto enrijecido
Fazê-lo perceber o mundo.
Não brigue
Com aquele pelo qual
Os jardineiros já esperam
Melhor ser paciente.
Recentemente quis
Contar-lhes com astúcia
A história de um comerciante de trigo
De Chicago. Em meio à palestra
Minha voz me deixou de repente
Pois eu havia
Subitamente percebido
Que esforço me custaria
Contar essa história aos ainda não nascidos
Que no entanto nascerão
E viverão em épocas bem diferentes
E felizardos! não mais poderão
Compreender o que é um comerciante de trigo
Assim como é entre nós.
Então comecei a explicar isso a eles. E no espírito
Parecia-me que falava durante sete anos
Mas deparei somente
Com um silencioso balançar da cabeça
Em meus ouvintes não-nascidos.
Então percebi que
Falava de algo
Que um homem não pode entender.
Eles me disseram: Vocês deveriam
Ter mudado suas casas, sua comida
ou vocês. Diga-nos, não havia
Um modelo para vocês, mesmo que
Somente em livros de épocas anteriores
Modelos de homens, desenhados ou
Descritos, pois nos parece que
O seu motivo era mesquinho
Fácil de ser mudado, quase qualquer um
Podia percebê-lo como falso, desumano e sem igual.
Não havia um velho
Plano simples, pelo qual se
Orientassem em sua confusão?
E disse: Os planos existiam
Mas vejam, eles estavam cinco vezes
Cobertos com novos signos, ilegíveis
O modelo alterado cinco vezes, conforme
Nossa imagem degradada, de modo que
Nesses relatos mesmo nossos pais
Assemelhavam-se apenas a nos.
Com isso perderam o ânimo e me despacharam
Com o lamento displicente
De gente feliz.
Bertold Brecht
Tradução Paulo César de Souza
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