A Rafael Azula Barrera
Resta-me a alva cheia
de presenças azuis
e a gota do tempo
sobre o cristal do sonho.
Resta-me o curvo rio
onde apóia sua fronte
a lua enquanto canta
com voz delgada e branca.
Resta-me uma janela
com contorno de sorriso
e olhares, semeando,
terna, sua trepadeira.
E a espiga da alma,
sua dourada verdade,
querendo ser estrela:
já quieta claridade.
Com os braços abertos
resta-me o horizonte,
e aquela margarida
morta com seu segredo.
E um amor, um amor
mais alto que meu canto,
que me torna celeste
e me ascende a cálida
guitarra do sangue.
Resta-me essa cidade
de sinos, afundada
no meu fechado mar,
e um doce caracol
que me dá seu rumor
achado nesta humana
praia das palavras.
Restam-me, vagamente,
a borboleta diáfana
da luz, uma tarde
limitada de música,
aquele perfil de lua
e uma voz que me chama
coberta de orvalho.
E o rumor cristalino,
da hora, crescendo
surdidor rumo ao frio
espaço da morte.
Eduardo Carranza
In: Antologia Poética
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